quarta-feira, 3 de abril de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: Manito

Antonio Rosa Sanches nasceu no dia 3 de abril de 1943 em Vigo, Ponte Vedra (Galícia), Espanha. Manito faleceu em 9 de setembro de 2011, em casa, na capital paulista, vítima de um câncer na laringe, contra o qual lutava desde 2006. O corpo está enterrado no Cemitério Horto Florestal, na Zona Norte de São Paulo.

Desde pequeno, revelou inclinação para a música, tocando diversos instrumentos. Vindo ao Brasil, em  1962 formou o The Clevers, onde era saxofonista, ao lado de Netinho (bateria), Mingo (guitarra-base), Risonho (guitarra-solo) e Nenê (baixo). Na sequência, a banda mudou o nome para Os Incríveis, começando então uma carreira fantástica e emblemática em terras brasilis. Com participação em diversos álbuns, é difícil selecionar apenas cinco obras que representem a categoria e o talento de um multi-instrumentista. Mas, dentre tantas opções, tentei selecionar aqui aqueles que julgo constiuirem ser suas obras mais relevantes. 

Os Incríveis - Para os Jovens que Amam os Beatles, Rolling Stones e... Os Incríveis [1967]

Os Incríveis possuem uma obra fantástica, concretada sobre versões para canções de artistas internacionais. Nesse álbum, terceiro da banda, podemos conferir toda a diversidade de estilos e instrumentos de Manito em estado bruto. Ele é o centro das atenções no saxofone nas instrumentais "Minha Oração (My Prayer)", "Não Resta Nem Ilusão" (bonito arranjo vocal nesta), "O Homem do Braço de Ouro (Delilah Jones)" e "You Know What I Want", todas ótimos rocks anos 50/60, e é o cerne ao órgão farfisa durante a balada rock "Nosso Trato (Se Giá D'Un Altro)", além de bases para diversas outras canções, como a bonita "Perdi Você" e a clássica "O Milionário (The Milionaire)", ambas instrumentais e principais canções da carreira do guitarrista Risonho. Mas a escolha de Para os Jovens que Amam os Beatles, Rolling Stones e... Os Incríveis estar aqui é "Czardas". O trabalho virtuoso de Manito no órgão nessa linda canção de Vittorio Monti é extremamente complexo, valendo cada segundo de audição, seja pela introdução singela, com longas notas, seja pela peça central, onde os dedos de Manito sobem e descem o órgão com uma agilidade e velocidades únicas. Linda faixa, e uma obra atemporal!

Mingo (voz e guitarra), Risonho (guitarra), Manito (teclados, vocal e saxofone), Netinho (bateria), Nenê (baixo)

1. Minha Oração  

2. Vai, Meu Bem  

3. Nosso Trato

4. Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones

5. O Homem do Braço de Ouro

6. O Milionário

7. Molambo

8. You Know What I Want

9. Czardas

10. Perdi Você

11. Nosso Abraço aos Beatles e Rolling Stones

12. Não Resta Nem Ilusão

Manito - O Incrível Manito [1970]

Estreia solo do músico (que curiosamente só lançou dois discos em carreira solo), aqui ele faz adaptações com muito groove para um repertório bastante versátil. É um grande disco de soul music e rock'n'roll, que se circulasse entre o pessoal dos Panteras Negras, com certeza teria fácil aceitação. Assim, admire "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso), com o baixão delirante e muito groove, destacando o vozeirão rouco de Dom (da dupla Dom & Ravel), cantando em inglês (que swing), único single da bolacha, e também os rockaços com as vozes do grupo Som Beat, Carlinhos e Haroldo, em  "Shake, Rattle & Roll" e "Judge Baby, I'm Back" (Carlinhos) e "The Funky Judge" (Haroldo). Mas é no instrumental que o bicho pega, vide a excepcional versão de "Kool and the Gang", ou o espetáculo sonoro de "The Gangs Back Again" e "Sock It to 'Em J. B.", ambas com Manito mandando ver no solo de saxofone. Queria muito descobrir quem é o baixista neste disco, infelizmente não consta nos créditos da contra-capa. O cara toca demais, e não creio que seja Manito. O piano e o órgão são os instrumentos centrais de "Tuck's Theme" e "Samuray", e claro, Manito está tocando muito em todas elas. Destoam somente a Santaniana "Bailamos Boogaloo", que não é uma faixa ruim, mas é bem abaixo das demais, e a baladaça "Raindrops Keep Fallin' On My Head", com Manito brilhando ao saxofone e uma bela orquestração a cargo de Chiquinho de Moraes. Um disco que deveria ser mais conhecido e citado entre as grandes obras da música nacional.

1. Na Baixa Do Sapateiro

2. Shake, Rattle & Roll

3. Kool And The Gang

4. The Funky Judge

5. Bailamos Boogaloo

6. Sock It To 'Em J.B.

7. Samuray

8. Judge Baby, I'm Back

9. Tuck's Theme

10. Raindrops Keep Fallin' On My Head

11. The Gangs Back Again

12. You've Made Me So Very Happy

Som Nosso De Cada Dia - Snegs [1974]

Antes de gravar esse álbum, Manito fez brevemente parte dos Mutantes de Sérgio Dias, substituindo nada mais nada menos que Arnaldo Baptista. Os dias como mutante foram poucos, e logo ele retomou uma parceria com Pedrão Baldanza e Pedrinho Batera, gravando talvez o disco mais versátil da sua carreira, e também o mais cultuado dentre os aqui apresentados. Snegs é uma aula de rock progressivo a ser descoberta pelo mundo. Em especial, nosso homenageado está endiabrado nos mais diversos instrumentos, vide o ápice com os solos de moog, sintetizadores e violino da Maravilha Prog "Sinal da Paranóia", sendo que o solo de violino é para abrir um sorriso de ponta a ponta na face de Jean Luc-Ponty. Ao longo dos 45 minutos do álbum, Manito desfila sua arte principalmente nos teclados, mas também chama a atenção o casamento vocal perfeito com o de Pedrão em faixas como as delicadas "Snegs de Biufrais" e "Direccion de Aquarius". Destaco ainda o experimentalismo de sintetizadores, moog e hammond na complexa seção instrumental de "Massavilha", onde Manito é um espetáculo a parte, a participação essencial do moog e do hammond em "Bicho do Mato", e principalmente "O Som Nosso De Cada Dia", com uma fantástica introdução levada pelos ágeis dedos de Manito, assim como um belo solo de saxofone e bases viajantes de hammond, o que acontece também na introdução e nas bases emotivas ao hammond para "A Outra Face", com mais um grande solo de hammond e também de saxofone. Um dos melhores discos do rock nacional, e para mim, a obra prima de Manito. 

Manito (saxofone, teclados, violino), Pedrão (viola, baixo e vocal), Pedrinho (bateria e vocal) e Marcinha (coro)

1. Sinal da Paranóia

2. Bicho do Mato

3. O Som Nosso de Cada Dia

4. Snegs de Biufrais

5. Massavilha

6. Direccion de Aquarius

7. A Outra Face

Zé Ramalho - Força Verde [1982]

Depois de sair do Som Nosso de Cada Dia, Manito fez registros junto com Rita Lee e a Tutti Frutti (Fruto Proibido e Babilônia) e se afastou da música durante um tempo, até ser redescoberto por Zé Ramalho em 1982, neste discaço. Apesar de não participar de todas as músicas, Manito faz o trabalho crucial de Midas naquelas onde ela toca. Assim, o cara vem com seus dois principais instrumentos, saxofone e órgão, em apenas três faixas, o suficiente para colocar este álbum aqui. Com o saxofone barítono, faz importantes inserções e um emocionante solo na polêmica faixa-título (veja por que aqui), da qual destaco também o belíssimo arranjo de cordas, assim como as bonitas passagens do alto-saxofone durante "Visões de Zé Limeira Sobre O Final Do Século XX". Porém, o ápice vai para o incrível solo de hammond de "Eternas Ondas", relembrando a virtuosidade de "Czardas" acompanhando um magistral arranjo vocal (que inclui, entre outras, a voz brilhante de Jane Duboc), e que faz desta canção facilmente um Top 3 de toda a obra de Manito. Com o bardo paraibano, ainda gravou Orquídea Negra (1982) e Por Aquelas Que Foram Bem Amadas Ou Pra Não Dizer Que Não Falei De Rock (1984), mas sem ter o status que atingiu em Força Verde, um dos melhores discos do paraibano (se não o melhor). 

Zé Ramalho  (violão, voz, arranjos); Luiz Paulo Simas (Órgão em 3, 8, piano em 1, 2, 4, 5, 6, 9); Chico Julien (baixo); Rui Motta (bateria); Herman Tôrres (viola de 12 cordas em 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), Manassés (viola de 12 cordas em 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9)

Coral Do Joab (Backing Vocals em 2 e 7)
Cordas em 1, 5, 7, 9: 

   Cello – Alceu de Almeida Reis; Jaques Morelenbaum; Marcio Mallard 

    Viola – Arlindo Penteado; Frederick Stephany; Hindemburgo Pereira; Nelson Macedo Baptista

    Violinos – Aizik Geller; Alfredo Vidal; André Charles Guetta; Carlos Eduardo Hack; Paschoal Perrota; Giancarlo Pareschi; Jorge Faini; José Alves; José Dias de Lana; João Daltro; Virgílio Arraes;  Walter Hack

Marinês (vocal principal em 5)

Claudinha Telles; Jane Duboc; Miram Perachi (Coral em 1, 4, 6)

Sivuca (Sanfona em 3, 5, 8, 9)

Ubiratan Silva (Congas em 5, 6)

Waldemar Falcão (Flauta em 3, 4, 5, 6, 8)

Ubiratan Silva (Ganzá em 2, 3, 7);  

Zé Gomes (Pandeiro em 3 e 6, Ganzá em 1)

Cícero (Percussão em 3, Zambumba em 5 e 6)

Aurélio (Saxofone em 3, 6)

Zé Nogueira (Saxofone em 3, 6)

Zé Leal (triângulo em 3, 5, 6, 9)

Moisés (trombone em 3, 6)

Bidinho (trompete em 3)

Marcio Montarroyos (trompete em 3)

Rafael Baptista (violão de 7 cordas em 10)

Geraldo Azevedo (violão em 10)

Braz Limongi (Oboé em 7)

Celso Porta (flauta em 9)

Franklin (flauta em 9)

Paulo Guimarães (flauta em 9) 

Ricardo Pontes (flauta em 9)

Bruno (Fagote em 10)

1. Força Verde

2. Eternas Ondas

3. O Monte Olímpia

4. Visões De Zé Limeira Sobre O Final Do Século XX

5. Banquete De Signos

6. Pepitas De Fogo

7. Beira-Mar - Capítulo II

8. Os Segredos De Sumé

9. Amálgama

10. Cristais Do Tempo

Camisa de Vênus - Duplo Sentido [1987]

O disco de (então) despedida do Camisa de Vênus conta com a mão de Manito em diversas faixas. Em especial, ele surge em um estilo totalmente diferente do que acostumamos antes no punkzaço "Após Calipso", onde usa saxofone, fazendo um solo quase free jazz, flauta, com dois solos bem virtuosos, e violino, com um breve e violento solo final, mostrando que um cara que tem talento consegue colocar instrumentos de sopro e cordas até no punk. Ao mesmo tempo, Manito usa o saxofone no solo de encerramento do rock "Chamam Isso Rock And Roll", no solo da introdução e central do bluezão "Me Dê Uma Chance", importantes passagens no clássico "Muita Estrela, Pouca Constelação", com a eterna participação de Raul Seixas, que acabou alavancando bastante o álbum, no solo/dueto com a guitarra do Post-Punk "O Suicídio Parte II", outro estilo bem "estranho" ao que conhecemos na carreira de Manito, e órgão hammond em "A Canção Do Martelo (Hammer Song)", faixa de Alex Harvey e sua Sensational Alex Harvey Band, ícone da Glam Rock, e que aqui ganha tons dramáticos. Enra justamente pelos estilos inusitados aos quais Manito está incubido de tocar, e o faz com maestria. 

Marcelo Nova (vocais), Gustavo Mullen (guitarras), Karl Hummel (guitarras), Aldo Machado (bateria), Robério Santana (baixo)

Vera Natureza, Maria Aparecida de Souza (Cidinha), Rita Kfouri e Nadir: vocais de apoio

Manito: Saxofone, Hammond, flauta e violino

Sérgio Kaffa (piano)

Chiquinho Brandão (serrote)

Luiz Carlos Batera (percussão)

Mica Griecco (harmônica)

1. Lobo Espiatório

2. O País Do Futuro

3. Ana Beatriz Jackson

4. Vôo 985

5. Após Calipso

6. Me Dê Uma Chance

7. Deusa Da Minha Cama

8. Chamam Isso Rock And Roll

9. Muita Estrela, Pouca Constelação

10. O Último Tango

11. O Suicídio Parte II

12. Chuva Inflamável

13. Enigma

14. Farinha Do Desprezo

15. A Canção Do Martelo

16. Aluga-se

17. Canalha

* Bônus Track: Como um bônus, fica também esse inacreditável duelo percussivo de Manito e Netinho, gravado para um especial da TV Cultura de 1972.




quinta-feira, 28 de março de 2024

A Breve e Importante História da James Gang [Parte II]

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Dale Peters, Jim Fox, Roy Kenner e Tommy Bolin

A saída de Domenic Troiano não afetou a personalidade do quarteto, que foi buscar na ensolarada Miami o novo dono das seis cordas, o exímio e novato Tommy Bolin, indicado pelo formador Joe Walsh. Com apenas 21 anos, o músico vinha de uma passagem soberana no obscuro grupo Zephyr, e assumiu a guitarra da James Gang com tanta personalidade que muitos fãs até desconfiam que houve uma carreira pré-Bolin com a banda.

Foram apenas dois álbuns, o suficiente para chamar a atenção do mundo, principalmente do Deep Purple, que o levou para substituir nada mais nada menos que Ritchie Blackmore, e que trarei agora, encerrando a segunda parte com os últimos lançamentos oficiais dessa gloriosa banda do hard setentista.


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Bang [1973]

A estreia de Bolin é um disco acima do comum, e na minha opinião, o melhor disco da carreira do James Gang. Tendo na formação além de Bolin o vocalista Roy Kenner, o baixista Dale Peters e o baterista Jim Fox, é o gurizão das roupas coloridas que toma conta, chegando com tudo ao anotar oito das noves composições de um LP sensacional. Quem conhece a curta carreira do guitarrista americano, ou apenas o álbum Come Taste the Band (gravado por ele junto ao Deep Purple em 1975), irá descobrir que as linhas de guitarra e os efeitos que tanto marcaram suas performances já se faziam presentes por aqui, seja na viajante introdução de "Standing in the Rain", utilizando diversos efeitos na guitarra, ou no espetacular solo de "From Another Time", onde ele desossa os dedos em uma faixa percussiva que deve ter agradado e muito ao chicano Carlos Santana. Bolin traz para a banda o uso do moog sintetizado, que abrilhanta o petardo setentista "Ride the Wind". Dois fatores a mais para a entrada de Bolin é que a James Gang ganhou mais um incrível vocalista, pois poucos tinham a capacidade de colocar tanto açúcar na voz quanto Bolin, que derrete calcinhas na lindíssima "Alexis", por incrível que pareça, ainda mais malemolência, como no sensual embalo da versátil "Must Be Love", com Bolin estraçalhando com o slide na introdução e fazendo um solo de tirar o fôlego. Quem procura algo da James Gang dos discos anteriores, encontrará no embalo acústico de "Got No Time For Trouble", na verdade uma canção muito mais Zephyr do que James Gang. Aqui comprovamos que Bolin levou suas características para o grande grupo inglês, com uma personalidade exclusiva de um dos poucos gênios da guitarra que apareceram na década de 70, e que acabou indo curtir outras bandas muito cedo. Exemplo maior dessa influência James Ganguiana no som do Purple está no riff de "The Devil is Singing Our Song", pois duvido que você não imagine os vocais de David Coverdale ou Glenn Hughes. A única composição sem a mão de Bolin, "Rather Be Alone With You (Song for Dale)" é uma maravilhosa criação  vocal de Kenner, sem a participação de nenhum instrumento, apenas vozes e palmas mandando ver em um soul sensacional. O melhor ficou para o final, onde segurar as lágrimas com o lindíssimo arranjo de cordas de Jimmie Haskell na linda "Mystery" é missão impossível, ainda mais com os dedilhado do violão de Bolin fazendo cada molécula de seu corpo vibrar. Música linda, que encerra um álbum raro na história da música, pois afinal, desconheço outro onde um novato chegou com tanta personalidade em um grupo veterano e simplesmente assumiu a posição de maior destaque. Nota 11 em 10, e um dos melhores discos da história fácil fácil.


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Miami [1974]

A influência e importância de Bolin para a James Gang foi tamanha que sua cidade Natal foi responsável por batizar o sétimo álbum do grupo, o qual revela ainda mais a capacidade de um agora cobiçado Bolin, já que suas performances em Bang e no incrível Spectrum, lançado por Billy Cobham no outono americano de 1973, chamaram a atenção de todo o mundo. O disco possui de tudo um pouco, sendo bem mais versátil que Bang. Apreciadores de Deep Purple coloquem a agulha direto em "Do It", e se apavorem com o que o guri faz na guitarra, despejando peso, velocidade e rifferama como poucos, ou então, chame a sua garota para mais uma vez derreter sua calcinha na bela "Spanish Lover", uma das canções marcantes da carreira do guitarrista colorido. Outra baladaça, "Sleepwalker", destaca a arrepiante interpretação de Kenner e o magistral slide guitar de Bolin, numa das peças mais bonitas do grupo, enquanto "Cruisin' Down the Highway" mistura elementos southern com pesadas passagens de slide, presentes também em "Summer Breezes", na qual eu diversas vezes penso ser uma faixa do Trapeze de Glenn Hughes que está saindo das caixas de som. Como sempre, temos espaço para canções mais swingadas, com "Wildfire" sendo a principal pepita a brilhar com essa característica, e se você quer curtir uma viagem, delire com as escalas jazzísticas de "Praylude", pequena peça instrumental que é acompanhada pela pesadíssima e maluquete "Red Skies", outra na qual Kenner mostra todos os seus dotes vocais. Para encerrar, temos a participação de Albhy Galuten com o sintetizador em "Head Above the Water", canção suave que encerra outro belo disco, taco-a-taco com Bang candidato a melhor da banda. A capa é a versão negra de Rides Again, o que acabou marcando entre os fãs o apelido de "Disco Preto".

Bolin acabou desiludindo-se com os problemas de drogas e álcool de seus companheiros - quem diria -, e foi gravar com Alphonse Mouzon, passeando pelas gélidas terras do Canadá na maravilhosa estreia do Moxy, fazendo Teaser, seu essencial álbum de estreia de 1975, e parando no Deep Purple para gravar o já citado Come Taste the Band. O James Gang deu uma pequena pausa, e em 1975, retornava com uma nova formação, tendo Fox, Peters, Bubba Keith (vocais e guitarras) e Richard Shack (guitarras).

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Richard Shack, Bubba Keith, Jim Fox e Dale Peters
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Newborn [1975]

Para muitos esse é o disco mais fraco do James Gang. Não consigo concordar com essa opinião, mas concordo que a sonoridade da banda mudou bastante com a saída de Bolin, fugindo inclusive do que foi produzido na era Walsh ou no período Troiano. O interessante é que assim como aconteceu com Bolin, dessa vez o estreante Bubba anotou dez das onze canções do LP, sendo sete em parceria com o também novato Richard Shack, o que me faz pensar onde foi parar a criatividade de Peters e Fox. Independente disso, a voz de Bubba é agradável de ouvir, principalmente na linda "All I Have", balada acústica onde o vocalista destaca-se com sobras, e na emocionante "Come With Me", apresentando George Ricci no violoncelo e Donny Brooks na harmônica. Acredito que a cisma dos fãs com esse álbum é por que a guitarra de Shack não brilha como a de Bolin ou Walsh. O guitarrista é tímido e por poucas vezes consegue se destacar, como na pesada "Earthshaker", grande canção que é fácil a melhor do disco, na pegada "Shoulda' Seen Your Face", sonzeira para balançar o pescoço sem dó, e na hardeira "Watch It", onde o quarteto soa como o grande grupo que os fãs esperam. Gosto bastante do rockzão "Red Satin Lover", onde o grupo rememora os arranjos vocais que se destacavam no início da carreira, mas não me agrada o ritmo country de "Cold Wind", com a participação da steel guitar de Al Perkins e do piano de Tom Dowd. Falando em country, o pianista e organista David Briggs deu uma cara southern na leve "Gonna Get By" e em "Merry-Go-Round", canção que abre o LP com o órgão sendo o destaque. Fox também usa o órgão como um dos instrumentos centrais de "Driftin' Dreamer", tendo o baixo de Fox estourando as caixas de som, assim como na pesada recriação do clássico "Heartbreaker Hotel", imortalizada na voz de Elvis Presley. A formação não durou muito tempo, com Bubba e Shack dando lugar a Bobby Webb (guitarras e vocais) e Phil Giallombardo (teclados, vocais e piano).

Bob Webb, Phil Giallombardo, Jim Fox e Dale Peters 
Bob Webb, Phil Giallombardo, Jim Fox e Dale Peters
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Jesse Come Home [1976]

A despedida da James Gang não é um grande álbum, infelizmente. O retorno de Giallombardo (que havia feito parte do grupo no início da carreira da banda) gerou um LP pouco inspirado e carregado de sacarose, trazendo baladas em excesso, como "Love Hurts", carregada na orquestração, ou a derretida "Peasant Song", onde o piano de Giallombardo nos faz lembrar Guilherme Arantes em sua fase Global, mas pelo menos o bonito arranjo orquestral a salva. Webb lidera os vocais em "Another Year", linda faixa comandada pelo bonito dedilhado de violão, e na qual a voz do tecladista casa muito bem com a suavidade que sai das caixas de som, e "Stealin' the Show", mais uma balada, só que essa bem viajante, com um brilhante hammond e muitos efeitos na guitarra. Outros bons momentos surgem na pegada rocker de "Hollywood Dream", a ótima instrumental "Pick Up the Pizzas", com seu riffzão pesadíssimo e a percussão de Nelson Flaco Pedron em destaque, o delírio hippie de "Feelin' Alright", última composição de Peters e Fox com a banda, os embalos funky de "I Need Love", e na trabalhada "When I Was a Sailor", mais uma balada trazendo cordas, metais, vocalizações e muitas variações de andamento.

Dale Peters, Joe Walsh, Jim Fox 
Dale Peters, Joe Walsh, Jim Fox na reunião de 2006

O James Gang reuniu-se várias vezes após seu término oficial em 1977, mas infelizmente, nunca mais registrou algo novo. Porém, sua curta discografia mostra que grandes bandas não necessitam de muitos álbuns para fazer história. Espero que os fãs da banda tenham gostado das descrições aqui apresentadas, e para quem não conhecia, que as matérias os tenham feito buscar os álbuns de um grandioso e praticamente desconhecido grupo, principalmente os clássicos da era Walsh e Bolin.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: Engodos Sob Alcunha Tim Maia


No dia 8 de março de 1998, enquanto gravava um show para a televisão no Teatro Municipal de Niterói, Sebastião Rodrigues Maia, ou simplesmente Tim Maia, acabou passando mal logo no início da apresentação. O síndico saiu carregado do palco, e foi diretamente internado no Hospital Universitário Antônio Pedro, com crise hipertensiva e edema pulmonar. Tim já vinha sofrendo com problemas de saúde, que não impediram ele de no ano anterior, lançar nada mais nada menos do que cinco álbuns pelo seu selo Vitória Régia: Amigo do Rei (com o grupo Os Cariocas), What A Wonderful World, Oldies But Goodies, Pro Meu Grande Amor, Só Você – Para Ouvir E Dançar e Sorriso de Criança

Uma semana depois, sofrendo de uma grave infecção, acabou falecendo aos 55 anos por falência múltipla de órgãos, deixando o Brasil inteiro em comoção e com uma saudades tão grande quanto seu enorme talento. Muitos discos póstumos surgiram no mercado, e hoje, apresento cinco deles, os quais foram lançados como sendo compostos de faixas inéditas de Tim, mas que para um fã do artista, soam como um engodo gigante, que serve apenas para gerar uns níqueis a mais às custas de ter a alcunha Tim Maia. Mas, se alguém gostar dos discos abaixo e achar que não está sendo enganado, parabéns! 

Seus últimos registros foram feitos nos Estúdios Vitória Régia, ainda em 1997, com um projeto audacioso no qual Tim foi convidado a gravar os hinos dos quatro grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco). A ideia surgiu após o músico eternizar sua rouca voz para o hino do América do Rio de Janeiro no CD Os Hinos dos Grandes Clubes Brasileiros Cantados Por Feras Do Rock E Da MPB, lançado junto da Revista Placar n° 1114 de 1996, apresentando o Ameriquinha, um clube tradicional carioca, mas não um dos grandes do Brasil, para uma geração inteira de seguidores de Tim e amantes do futebol. Naquele CD, ainda há nomes diversos como Ultraje a Rigor (São Paulo), Herbert Vianna e Falcão do Rappa (Flamengo), Kleiton e Kledir (Internacional), Paulo Miklos (Santos), Luis Melodia, Fernanda Abreu e Celso Blues Boy (Vasco) entre outros. 

A última imagem de Tim em vida

Tim havia começado o projeto, registrando sua voz para os hinos de Flamengo, Fluminense e Vasco, quando veio a falecer (ficando o do Botafogo sem a oportunidade de ter a aveludada voz do Síndico), e eis que então, através do produtor Claudio Mazza, o projeto seguiu adiante. Trazendo então a propaganda de "O Último Registro de Tim Maia", no início dos anos 2000 saíram  três CDs, cada um para um dos grandes times que Tim havia gravado os hinos, e que são verdadeiro caça-níqueis em cima do nome Tim Maia. E os três estão fortemente inseridos aqui, nesta indicação que serve para conhecer não no sentido de "ouça", mas sim de saber do que que se trata. Pela ordem de lançamentos, vamos a eles

Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Flamengo [2000]

Este foi o primeiro lançamento da Mazza Music, sob número 828817 001, e claro, o nome de Mazza fica evidente como o cérebro deste engodo. O álbum começa com o vozeirão de Tim cantando a estrofe central do Hino do Flamengo, e então, com 50 segundos, surgem sintetizadores e eletrônicos, assim como diversos outros instrumentos, enquanto a voz de Tim falando algumas de suas frases clássicas (libera, libera, que beleza, quem não dança segura a criança, simbora, vitória régia etc) são intercaladas. Tim canta o hino sobre uma base eletrônica, e este é o único momento interessante do CD, com o "ai Jesuis" de Tim sendo bem engraçado de ouvir. A faixa dura 3 minutos e 48 segundos, e então o CD passa a rodar mais 7 faixas eletrônicas gritantemente irritantes. É difícil dizer o que é pior, se "Pancadão da Raça" (apresentada em uma versão normal e versão remix, que praticamente forma uma única faixa de 9 minutos entediantes), começando com o grito da torcida do Flamengo seguida por insuportáveis 8 minutos de batidas dance e ritmos eletrônicos, misturando alguns gritos da torcida, e que em nada tem a ver com Tim Maia, ou as três desinteressantes versões de "Dance Fla" (normal, extend e instrumental), que nada mais são do que o instrumental do hino do Flamengo repetidos a exaustão, acrescentando vocalizações, gritos de torcida e muitos eletrônicos. Ainda se tem o hino do Flamengo de forma instrumental para Karaokê, assim como repete a mesma faixa inicial após o tal Pancadão (duas faixas iguais no mesmo CD?!) e o engodo encerra com um registro da torcida do Flamengo de pouco mais de 45 segundos, e é isso. A farsa é tamanha que em 2001, com o título do Bi-Campeonato Carioca conquistado pelo time da Gávea, Mazza resolveu relançar essa "coisa" (Mazza Music 82881 7002) com mais alguns gritos de torcida e uma provocação ao Vasco, com a urubuzada gritando "Vice De Novo". Cansativo!

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3,4); Kesso Fernandes (bateria em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Márcio Mazza (bateria em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Claudio Mazza (bateria, baixo e teclados em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, vocais em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Rogério Lopes (guitarra, vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8);  João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Leg Rinsgted (percussão e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Evaldo Robson (saxofone e vocais em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Elias Corrêa (trombone e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8)

1. Hino Do Flamengo

2.Dance Fla

3. Pancadão Da Raça

4. Pancadão Da Raça [Remix]

5. Hino Do Flamengo

6. Dance Fla [Extend]

7. Hino Do Flamengo [Karaokê]

8. Dance Fla [Instrumental]

9. Grito Da Torcida [Bonus Track]

Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Vasco [2001]

Este álbum foi lançado sob número (82881 7003). Assim como do arqui-rival Flamengo, o CD do Vasco tem como único atrativo a voz de Tim cantando o hino do Gigante da Colina, e só. Mazza novamente traz eletrônicos à exaustão, tanto na música principal quanto em "Techno Vasco" (versão normal e remix), novamente em algo que parece uma única faixa, que é um techno com inserção de gritos da torcida do Vasco, ao menos agora só (!) com cinco minutos e 30 segundos, faz a versão Karaokê para o hino do Vasco, e piora o que já veio do disco do Flamengo com "Vasco Dance", com o ritmo dance do hino e inserção de gritos da torcida, e "Vasco Rave" (ambas versões normal e remix), em versões intermináveis de batidão, eletrônicos e gritos de torcida, e um "Vasco da Gama" dito por Tim Maia vez que outra. Como novidade, acrescenta gritos da torcida (as mesmas que aparecem em "Vasco Rave", "Techno Vasco" e "Dance Vasco") também como faixas individuais, com pouco mais de 20 segundos ("O 'Maraca' É Nosso, Lê Lê Lê O Vasco, Grito Do Vaco e Torcida Vasco), que servem para aumentar o tempo de duração de um engodo que tão pouco acrescenta alguma coisa para o CD ou para a discografia de Tim. Ao menos aqui ele não teve a indecência de repetir o hino do Vasco da Gama, como fez com o hino do Flamengo, e a coisa felizmente se acaba com menos de 30 minutos. Mesmo assim, fuja!

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 10, 11); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, programação de bateria em 1, 2, 10 e 11); Claudio Mazza (bateria, e baixo em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, teclados em  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, vocais de apoio em 1, 2, 10 e 11); Rogério Lopes (guitarra e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11);  João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Leg Rinsgted (percussão em 1, 2, 10, 11); Evaldo Robson (saxofone em 1, 2, 10, 11); Marlon Sette (trombone em 1, 2, 10, 11); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 10, 11); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11)

1. Hino Do Vasco Da Gama

2. Vasco Dance

3. Techno Vasco

4. Techno Vasco [Remix]

5. O "Maraca" É Nosso

6. Lê Lê Lê O Vasco

7. Vasco Rave

8. Vasco Rave [Remix]

9. Grito Do Vasco

10. Hino Do Vasco [Karaokê]

11. Vasco Dance [Remix]

12. Torcida Vasco


Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Fluminense [2001]

Quarto lançamento da Mazza Music (82881 7004), mantém o padrão dos seus antecessores, com a voz de Tim sendo o atrativo para um dos hinos mais belos do futebol nacional, em homenagem ao tricolor carioca, o qual possui ainda mais elementos eletrônicos do que os antecessores, com sintetizadores por vezes remetendo a "Descobridor dos Sete Mares". Daí vem "Dance Flu" (versões normal e remix), que até tem um interessante solo de teclado, "Festa Flu" (versões normal e remix, com insuportáveis 6 minutos e meio de muito bate-estaca, somadas as duas) e a tediosa "Techno Flu" (tambem nas versões normal e Remix, com pouco mais de 6 minutos, e bota chato), nada criativo. Além disso, adições de gritos da torcida do Fluminense em trechos pequenos ("Grito do Flu", "A Torcida do Fluzão", "Nense" e "Eh! Oh! Tricolor"), e a famigerada versão Karaokê do hino, totalizando pouco mais de 30 minutos. No âmbito geral, seria bem mais honesto Mazza ter lançado em um único CD os três hinos, com a mixagem que quisesse, mas três CDs individuais, onde a voz de Tim é usada e usurpada de forma tão deliberante, é uma piada sem tamanho.

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 10, 11); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, programação de bateria em 1, 2, 10, 11); Claudio Mazza (bateria, baixo em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, teclados em 1, 2, 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12, vocais de apoio em 1, 2, 10 e 11); Rogério Lopes (guitarra e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Leg Rinsgted (percussão em 1, 2, 10, 11); Evaldo Robson (saxofone e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Marlon Sette (trombone em 1, 2, 10, 11); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 10, 11); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11), Micheline Linhares (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11)

1. Hino Do Fluminense

2. Dance Flu

3. Grito Do Flu

4. Festa Flu

5. Festa Flu [Remix]

6. A Torcida Do Fluzão

7. Techno Flu

8. Techon Flu Remix [Remix]

9. Eh! Oh! Tricolor

10. Hino Do Fluminense [Karaokê]

11. Dance Flu [Remix]

12. Nense


A Festa do Tim Maia [2002]

Esse engodo não tem a mão de Claudio Mazza, mas sim  DJ Memê. Sei lá de onde o cara tirou a ideia de fazer uma adaptação de clássicos de Tim para versões "dançantes" (techno, pode se dizer), e assim, acabar destruindo com uma obra atemporal. A abertura com "Intro Festa" apresenta um pessoal chegando para uma festa, e então, começa o bate-estaca interminável, interlacado por gritos como se fosse realmente uma festa. Pouca coisa se aproveita aqui, e as remixagens são em maioria demasiadamente longas. DJ Memê readaptou a voz de Tim Maia, e algumas falas, para fazer atrocidades em "Do Leme Ao Pontal", "Não Quero Dinheiro", "Vale Tudo", "Você" e principalmente, as tinhosas "Gostava Tanto de Você", "Sossego" e "Você E Eu, Eu E Você". Músicas originalmente animadas ficam até que bem remixadas aqui, vide "A Festa Do Santo Reis", "Acenda O Farol" e "Azul Da Cor do Mar", talvez a melhor remixagem do trabalho, mas nada que supere o original. Em comparação aos outros quatro desta lista, este é o melhorzinho, mas mesmo assim, digno de se passar longe!

1. Intro Festa

2. Vale Tudo (In My House Memê Mix)

3. Acenda O Farol (Memes's Philly Flavor Mix)

4. Você E Eu, Eu E Você (Juntinhos) (M&M Electro-La Rmx)

5. Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (Memê 2002 Mix)

6. Sossego (The Underground Solution Mix)

7. Você (The Blacksuit Mix)

8. Azul Da Cor Do Mar (Memê Meets Corello Mix)

9. Gostava Tanto De Você (Memê's Liquid Kitchen Experience)

10. Do Leme Ao Pontal (Memê's Febre Mix)

11. A Festa De Santo Reis (Maresias Club Mix)

12. Só Mais Uma (Vinheta)

13. Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (Ibiza Sunset Mix)


Forró Do Brasil [2003]

Essa é daquelas coisas que os desconhecedores da carreira de Tim acabam caindo como um rato na ratoeira. Amplamente divulgado como "O Último Disco de Inéditas de Tim Maia", na verdade é um engodo promovido por Cláudio Mazza (ele novamente), junto de um time com mais de 20 músicos, englobando uma espécie de "coletânea" de cinco discos lançados por Tim no fim de sua carreira, entre 1994 e 1998, porém apenas com a voz de Tim, e uma mixagem em ritmo de forró. Assim, o ouvinte em pouco ais de 45 minutos passa por sofríveis versões para "O Nordeste É Lindo" e "O Que Vem Da Bahia" (de Voltou Clarear), com a última sendo a única a ser possível de se chamar de boa, por conta da sua bela introdução; "Estória De Cantador", "Nanã", "Pra Fazer Você Feliz", "Tudo Era Lindo" (de Pro Meu Grande Amor, com "Pra Fazer Você Feliz" sendo uma adaptação para "Pra Fazer Você Sorrir", que ficou lamentavelmente lamentável), "O Pescador", "Sorriso De Criança" e "Sozinho" (Sorriso de Criança), "Ter Você É Ter Razâo" (Amigo do Rei) e "Cross My Heart" e "Vixe" (Só Você, Pra Ouvir E Dançar). Dentro da proposta do forró, com muito esforço soam agradáveis ao ouvido "O Nordeste É Lindo", "Ter Você É Ter Razão" ou "Tudo Era lindo", que até dá de se ouvir imaginando uma Elba Ramalho ou um Alceu Valença cantando por exemplo, e que com a voz rouca e grave de Tim ficaram somente ok. Por outro lado, é constrangedor ouvir "Cross My Heart", misturando country com reggae e forró (horrível!!), lamentável a desfaçatez de "Sozinho", clássico de Peninha imortalizado somente com vo e violão por Caetano Veloso, e detestável o que fizeram com as canções-manifesto "O Pescador", "Sorriso De Criança" e "Vixe", que em nada combinam com o ritmo alegre proposto por Mazza. No contexto geral, é um disco totalmente esquecível, e não digno de fazer parte da discografia do Síndico, que como o próprio Cláudio Mazza afima nos liner notes do CD, possui uma obra atemporal!

1. Pra Fazer Você Feliz

2. O Nordeste É Lindo

3. Sorriso De Criança

4. Ter Você É Ter Razâo

5. Estória De Cantador

6. Nanâ

7. Vixe

8. Cross My Heart

9. Tudo Era Lindo

10. Sozinho

11. O Pescador

12. O Que Vem Da Bahia

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Luau MTV 2002



Ah o verão. Quanta coisa boa podemos fazer nessa época do ano, principalmente nas praias. E uma das grandes situações que os jovens adolescentes do início deste século (dos quais me incluo) viveram relacionados com música e praia foi o Luau MTV, programa de televisão exibido anualmente na programação de verão da MTV Brasil entre 1996 e 2013. Durante o verão, a emissora convidava artistas e bandas para tocar na praia, ao som acústico com violão e percussão. O programa foi apresentado por diversas VJs da casa, entre elas, Carla Lamarca, Cuca Lazzarotto, Fernanda Lima, Sabrina Parlatore e Sarah Oliveira. Diversos artistas passaram por lá, com alguns chegando inclusive a lançar DVDs e CDs com as apresentações.

Aproveitando do sucesso do programa, a Abril Music lançou em 2002, como parte integrante da revista MTV - edição 12, um CD compilando 12 faixas de 6 artistas diferentes que estiveram desfilando suas canções e versões: Los Hermanos; Kiko Zambianchi; Cássia Eller; Rita Lee; Ivete Sangalo e Titãs. A compilaçãozinha é tão legal que resolvi trazer a mesma aqui, ao mesmo tempo também de que se tornou uma relíquia, já que contém os últimos momentos de Cássia Eller, e também de Nando Reis junto aos Titãs. 

Marcelo Camelo com o Los Hermanos no Luau MTV

O Los Hermanos abre a compilação com uma linda versão acústica para "Anna Julia", o mega-clássico do álbum de estreia da banda, que os catapultou ao mundo, e que aqui ganha uma cara muito bela através do arranjo de violões feito por Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo. A verão é mais curta, sem o solo e o trecho "Sei que você já não quer o meu amor ...", mas o que não diminui em nada a qualidade da faixa. Seguimos com os cariocas e uma versão muito fiel à original de "Retrato Pra Iaiá", do clássico Bloco Do Eu Sozinho, e que aqui apresentava o novo Los Hermanos para os fãs, e tirar o Los Hermanos do posto de hardcore carnavalesco para o altar dos adolescentes indies do início dos anos 2000. Vale lembrar que a edição deste Luau saiu em DVD, assim como o do próximo artista. 

Kiko Zambianchi vem a seguir, fazendo uma agitada versão para "Ando Jururu" (Rita Lee), apenas com violões e percussão, seguida pelo sucesso "Primeiros Erros", imortalizado pelo Capital Inicial, e aqui também apenas com violões e percussão, além de uma bela interpretação de Kiko. 

Cássia Eller e a apresentadora Sarah Oliveira, em um dos últimos registros em vida da cantora

Chegamos então em Cássia Eller, para qual o CD é dedicado. Nunca fui muito fã da cantora, apesar de ter ouvido bastane (na época) o Acústico MTV dela. Porém, as canções aqui apresentadas mostram como Cássia foi uma das maiores cantoras brasileiras de sua época. O sucesso "Malandragem" embala a praia como um grande luau noturno, sob o sol escaldante da Costa do Sauipe, na Bahia, levado por uma sinuosa participação do acordeão, enquanto "Relicário", com a participação do autor, Nando Reis, é simplesmente emocionante, não só pela linda interpretação vocal da dupla, mas ainda mais por lembrar que esse show foi gravado no dia 19 de dezembro de 2001, exatamente 10 dias antes do precoce falecimento de Cássia.

Rita Lee vem fornecer a verdadeira representatividade gótica no verão. No programa original, estava estava com um óculos vermelho que lembra muito Ozzy Osbourne, além de blusa verde de manga comprida (com estampa do Che Guevara), como apresentado na capa do CD, e jeans rasgado. Puro suco de excentricidade. Essa combinação, junto à banda enxuta da cantora, apresenta versões simples e fieis as originais de "Ovelha Negra" e "Jardins da Babilônia", com destaque mais para o embalo da segunda.

Ivete Sangalo está na sequência. Veveta está em casa, e canta versões revisadas para "Tá Tudo Bem" e "A Lua Q T Dei", com destaque para a presença de uma flauta na primeira e a tocante interpretação da segunda. Não sou fã da cantora, mas para o contexto de festa e animação, é inegável que a presença de Ivete é fundamental. 

Paulo Miklos com o Titãs no Luau de 2002

O CD encerra-se com os paulistas do Titãs, banda recorrente no Luau MTV (ganhando também um DVD individual), já que tocou no programa em 1999, na crista da onda do lançamento do sucesso Acústico MTV, programa no qual a apresentadora Sabrina Parlatore acabou confirmando que foi a maior plateia do programa, sendo que muita gente ficou de fora do especial em uma fila gigantesca. Em 2001 a banda esteve novamente por lá, sendo um dos últimos registros do saudoso guitarrista Marcelo Fromer, morto em 2001, e voltou em 2002, de onde saíram as duas canções desta compilação.

Elas são "O Mundo é Bão Sebastião" e "Homem Primata".  As versões casaram muito bem para o estilo acústico, algo que a banda estava fazendo com primazia na época, mas a plateia "mais solta" que o ambiente do Acústico, apoiando nos vocais, torna as canções ainda mais agradáveis. Lembrando que este show ficou marcado por ser um dos últimos com Nando Reis.

Enfim, algo simples mas muito bom, e saudoso também dos bons tempos onde os verões não eram tão infernais, lá nos idos anos 2002. 

Contra-capa do CD

Track list

1. Los Hermanos – Anna Júlia

2. Los Hermanos – Retrato Pra Iaiá

3. Kiko Zambianchi – Ando Jururu

4. Kiko Zambianchi – Primeiros Erros

5. Cássia Eller – Malandragem

6. Cássia Eller – Relicário

7. Rita Lee – Ovelha Negra

8. Rita Lee – Jardins Da Babilônia

9. Ivete Sangalo – Tá Tudo Bem

10. Ivete Sangalo – A Lua Q Eu T Dei

11. Titãs – O Mundo é Bão Sebastião

12. Titãs – Homem Primata

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Consultoria Recomenda: Lançamentos de 2023 que “ninguém” vai ouvir

 Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Fernando Bueno

Com Anderson Godinho, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Líbia Brígido, Mairon Machado e Marcello Zappelini


Nós que fazemos da música uma parte importante das nossas vidas costumamos ir à fundo nos estilos que gostamos e volta e meia algum disco ou banda mais desconhecidos aparecem nas nossas audições. Muitas vezes encontramos material com qualidade acima da média e ficamos com aquela sensação de que pouca gente vai ouvir aquilo e que a banda poderia ter uma melhor sorte. E tentar mudar essa história talvez seja um dos nossos papéis aqui no site. Quando propus o tema “Ninguém Vai Ouvir” aos meus amigos consultores a ideia foi que eles indicassem bandas ou disco que eles consideram que pouca gente iria ouvir sem que alguém trouxesse isso à tona. Talvez a melhor definição do tema fosse “Ninguém Iria Ouvir”, acreditando que temos um alcance bom para que mais pessoas conheçam os trabalhos indicados. Na verdade, esse tema pode até virar uma coluna fixa todos os anos, quem sabe? E estava valendo de tudo, uma banda bastante underground, estreantes e até mesmo bandas já muito bem estabelecidas, mas que hoje estejam longe do radar da grande maioria. Obviamente nem todos os discos indicados aqui abaixo vai agradar todo mundo, mas se pelo menos um for do agrado de alguém já fizemos nossa parte. Deixe nos comentários o que mais gostou e indique também um disco aos nossos leitores. (Fernando Bueno)


*Daniel Benedetti mandou sua recomendação, mas seu pc pifou e seus textos se perderam. 

Walk With Titans - Olympian Dystopia


Por Fernando Bueno


Um amigo que mora no Canadá me mandou o link desse disco no Spotify dizendo que tinha gostado e que eu também iria gostar. O Walking With Titans é uma banda de power metal que lembra muito o Stratovarius, muito por conta da voz de Jonathan Vezina, que sem exageros entrega o que todo fã do estilo espera. Em algumas passagens podemos lembrar de Rhapsody e até mesmo o Angra. Mas ficam longe de ser uma mera cópia dessas bandas, apenas são referências mesmo. O curioso é que depois que fui atrás para ouvir e saber mais sobre o grupo descobri que um brasileiro até mesmo participou do disco como convidado, o guitarrista Renato Osório que durante alguns anos foi o guitarrista do Hibria e do Scelerata. A banda trata de temas relacionados aos gregos o que me fez lembar de outra banda canadense, o Ex Deo, que usa os temas romanos para todas as suas músicas. O estilo estava bastante saturado para mim e eu dificilmente estava ouvindo algo além das bandas que eu já gostava mesmo, mas o Walk With Titans conseguiu fazer eu abrir uma exceção.


Anderson: Os canadenses do Walk with Titans apresentam um Power Metal com elementos do que o estilo tem de melhor, não inventam moda. Um bom vocalista, que no geral não tenta ser novo Kiske ou Kotipelto. Todavia, as vezes arrisca uns agudos que soam bem forçados. Nota 7,5! Gostei bastante da velocidade das músicas, o que é uma constante no álbum. Mesmo que existam músicas mais melódicas ou com passagens mais lentas, a regra é pau na máquina...bpm alto. As melodias também me agradaram bastante, não tem nenhuma música que eu tenha achado ruim. A temática épica grega também é bem acertada para mim, é um dos temas de histórica clássica que, particularmente, mais me chamam atenção. Sucesso. No instrumental achei a banda criativa dentro do possível (uma vez que é um gênero musical muito bem explorado). Aquele tecladinho estilo The Black Halo do Kamelot ou Visions do Stratovarius não engana ninguém, uma cozinha bem consistente também é bem audível no álbum. As guitarras achei no ponto certo: quando precisa ser técnico cumprem perfeitamente, quando é pra deixar fluir sem querer aparecer, também o fazem. Bom material, altamente recomendável.


André: Outro disco de power metal, mas cuja pegada é daquelas mais velozes do estilo, com muito bumbo duplo e tudo mais. Fui pesquisar para ver se Timo Kotipelto tinha gravado os vocais aqui. Não é ele, mas um de seus clones. Porém, isso não é ruim, visto que ele é um de meus vocalistas preferidos de power metal. Ter a voz igual a dele é um mérito. E quanto ao disco, dá-lhe bateria hiperveloz aqui, agudos ali, teclados épicos cá, guitarras rápidas acolá e baixo inaudível enterrado em algum canto da mixagem. E ainda assim, um álbum muito bom.


Davi: Coloquei esse disco para tocar sem saber muito o que esperar e me deparei com uma banda típica de power metal. Os músicos são excelentes, onde colocaria como destaque o baterista Nikko Cyr, o guitarrista solo Louis Jacques e, especialmente, o vocalista Jonathan Vézina, cujo trabalho vocal me remeteu bastante ao Timo Kotipelto (Stratovarius). Aliás, a sonoridade da banda me remete bastante ao Stratovarius e esse, para mim, é o grande problema desse disco. Não que eu não goste do Stratovarius, longe disso, é uma banda que curto bastante, mas se esses caras quiserem crescer na cena terão que buscar um diferencial. O disco é bacaninha, as músicas são bem construídas, mas falta um pouco de personalidade. Momentos preferidos: "Gods of the Pantheon" e "Herakles".


Líbia: Por enquanto vou ficar em falta com esse.


Mairon: Esses canadenses criaram um álbum baseado na mitologia grega, contando a história de nomes como Hércules, Euridice, entre outros. O guitarrista Louis Jacques é um monstro, com solos velozes e complexos (o que ele faz em "Seven Against Thebes" é inacreditável), e gostei do vocal Jonathan Vézina, por vezes me lembrando o saudoso Andre Matos. Eu curti o som da banda até um certo momento, sendo as minhas preferidas "Final Dawn", "Herakles", . Porém, acho que os teclados não combinaram com o peso power/hard metal que é produzido pelo quinteto, o que faz com que diversas músicas tornem-se maçantes de se ouvir aquele timbre chato de teclados. Sorte que Louis Jacques acaba salvando Olympian Dystopia de se tornar uma tragédia grega!


Marcello: Álbum de uma banda canadense que me era completamente desconhecida até aparecer nessa lista – e que, se não fosse pela escolha de um consultor, provavelmente não conheceria de jeito nenhum. O quinteto tem em Jonathan Vezina um excelente vocalista, e instrumentalmente se mostra bem afiado, com bom trabalho de guitarras e uma cozinha segura e pesada na medida certa. As músicas se inspiram na mitologia grega, o que me agradou bastante. Adorei “Edge of Time”, “Final Dawn”, “As Titans Fall”, todas rápidas, pesadas na medida certa e bem elaboradas, mas as músicas são uniformemente atraentes, lembrando o Stratovarius em seus melhores momentos, e certamente vão agradar os fãs de power metal. “Gift of Fire” conta com a colaboração de um certo Osorio que eu – e possivelmente você que está lendo – não tenho ideia de quem seja. Por fim, destaco que a banda deixou o melhor para o final, pois “Eurydice” me pegou logo de cara, lembrando um pouco o Iron Maiden. Este álbum me deixou uma boa impressão; certamente voltarei a este “Olympian Dystopia” com prazer, e vou buscar mais coisas da banda.

DragonHeart - The Dragonheart's Tale


Por Anderson Godinho


Depois de alguns bons anos parado sem mostrar nada novo e se quer dar sinal de vida, eis que o DragonHeart se recoloca no mapa do metal nacional. Para quem não conhece trata-se de uma banda que surge no final dos anos 1990 e que segue a cartilha do Power Metal super clássico. Sem medo de ser feliz eles demonstram abertamente o valor que dão à Grave Digger, Running Wild e velharedos dessa época primordial do estilo. Particularmente esse é o álbum que mais curti da banda, já conhecia eles do passado, mas não batia muito com o estilo clássico deles. A banda mudou praticamente todos os seus membros, mas os que entraram são muito bons, inclusive ao vivo. O pecado da banda, atualmente na minha humilde opinião, é justamente o vocal que poderia ter alguém dedicado exclusivamente para tal, o Eduardo Marques da conta no estúdio, mas ao vivo ele fica preso na divisão com uma das guitarras. Não prejudica, mas falta algo. Sobre o álbum em si, gostei muito, produção impecável, sonoridade que honra a história da banda e o estilo. São três atos distintos sendo a primeira parte a maior. Destacaria, pra ser econômico três músicas: "The Devil Is By My Side" com um refrão bem forte e uma cadência poderosa que marca bem o som e dita o bate cabeça; "Ghost Of The Storm" com a participação de Henning Basse - Metalium, e que já trabalhou com Gamma Ray, Épica, Doro, Kamelot entre outros – que foi single antes do lançamento e ajudou a divulgar o retorno da banda pelas mídias sociais; e, a última "Early Days", bem épica. Todos os instrumentos tem vez ao longo do disco, muitas belas melodias e a questão de ter um tema central, quase um RPG (cartilha do Power Metal, lembra?), no melhor estilo metal espadinha (sem ser pejorativo). Um ótimo lançamento para quem curte o estilo no modo raiz.


André: Nunca havia ouvido falar dos curitibanos do DragonHeart. Me surpreendeu saber que eles existem desde 1997 e que já haviam gravado quatro discos, sendo este o quinto. Dá para se dizer que lembram o Helloween oitentista e o Gamma Ray nas partes mais rápidas e tem aquele quê de Blind Guardian e Rhapsody of Fire nas partes mais lentas. Como eu gosto de power metal, o disco me agrada. Guitarras e melodias legais e um vocal competente. Novidade é zero por aqui em termos de estilo, mas se você curte as bandas citadas acima, pode ir sem medo neste disco aqui.


Davi: Pelo que andei lendo, parece que esse é o álbum que marca o retorno do grupo. Honestamente, não conhecia o trabalho deles. Sendo assim, não tem como eu fazer um comparativo com os trabalhos anteriores. Em relação à esse disco em especial, senti bastante influência de heavy metal alemão. O trabalho vocal e as partes mais rápidas me soam como Gamma Ray, as partes mais acústicas me remetem à Blind Guardian. Há ainda influências de Accept e Running Wild. Gostei do disco dos caras. Achei o trabalho bem feito. Bons músicos, umas composições bacanas. Certamente vou procurar mais alguma coisa deles para ouvir. Faixas preferidas: "Under The Black Flag" e "Eric, The Red".


Fernando: Essa mistura de power metal com histórias medievais nunca vai acabar. Não conhecia o som do DragonHeart (só eu me incomodo com essa letra maiúscula no meio da palavra?), mas já tinha visto alguma coisa deles por aí. Não sei se foi impressão, mas me pareceu que o vocalista Eduardo Marques se contém bastante nos tons mais altos, deixando tudo um pouco mais fácil de assimilação e menos enjoativo. Quase todas as faixas possuem uma vinheta de introdução o que me fez lembrar o clássico Nightfall in the Middle Earth. Já consumi muito desse tipo de metal, mas faz tempo que não vou muito atrás de coisas novas. Ouço sempre praticamente as mesmas bandas que eu ouvia antes.


Líbia: Bom pessoal, infelizmente não consegui ouvir o álbum o suficiente para compartilhar minha opinião.


Mairon: Power Metal na veia, e por incrível que pareça, Made in Brazil. Este é o quinto disco dos caras, marcando o retorno do vocalista e gutiarrista Eduardo Marques. São 15 faixas (com 4 interlúdos incluídos) em uma obra dividida em três atos, contando uma narrativa fantasiosa com influências medievais, sobre lendas deste período. Curti bastante faixas do primeiro ato, destacando "Ghost of Storm" e "Under the Black Flag". O segundo ato possui apenas duas músicas, e é mais pesado do que power, destacando "Westgate Battlefield". Por fim, o terceiro ato é uma mistura dos dois anteriores, onde gostei mais de "The Devil Is By My Side" e a paulada "Plague Maker", forte candidata a melhor de todo este belo disco recomendado por aqui. Boa audição!


Marcello: Novo álbum da banda curitibana de power metal, uma daquelas de quem ouvi falar e nunca tinha ido atrás para conhecer. Pesquisando na Internet fiquei bem surpreso com o quanto a veterana banda é apreciada pelos fãs do estilo. Após a vinheta de abertura, as guitarras de Marco Caporasso e Eduardo Marques dão o tom do disco na faixa-título; Thiago Mussi e Felipe Mata, ambos bons músicos, completam a formação no baixo e bateria. Daí em diante o que se tem é um belo trabalho de metal, com bastante variedade, vinhetas, experimentação com instrumentos pouco convencionais para o estilo, em suma, um disco muito bem produzido e próprio para fazer bater cabeça com gosto (eu já não posso mais fazer isso sem correr o risco de contundir o pescoço, hehehe). Não sou muito capacitado para falar da banda, tampouco do cenário power brasileiro, mas o álbum é muito bom e gostei bastante de “Under the Black Flag”, da empolgante “Barbarian Armada”, das rápidas “Westgate Battlefield” (minha favorita) e “Plaguemaker”, e do encerramento com “Early Days”. Apenas as vinhetas, na minha opinião, não acrescentam muito. Mas como também não atrapalham, a nota de The Dragonheart’s Tales é surpreendentemente elevada para um disco de um estilo que não está exatamente no topo da lista dos meus favoritos.

Kinetic Element - Chasing the Lesser Light


Por André Kaminski


Um dos discos mais legais que ouvi esse ano e forte candidato a entrar em meu top 10 de Melhores de 2023. Na veia de Emerson, Lake & Palmer e Yes, aqui você terá um monte de passagens progressivas bem intrincadas e longos solos em que todos os instrumentistas têm o seu momento de destaque. Claro que o vocalista St. John Coleman está bem longe de soar como um Jon Anderson, mas vocais para mim sempre foram o que menos importei, e nas bandas progressivas menos ainda. As letras são temáticas e falam da vontade da humanidade para com a conquista espacial. Um desejo bem anos 70 logo após as missões Apollo da NASA. Recomendo uma audição à todos que curtem esse esse estilo de prog do qual é um de meus favoritos.


Anderson: Com uma temática de exploração espacial esse álbum se divide em cinco músicas apenas, porém, com algumas passando dos 15 minutos. Você ouvirá teclados, sintetizadores, órgão, boas passagens de baixo, obviamente muita guitarra. Tem um ar bem sinfônico, mas, que as vezes é um pouco cansativo e com algumas quebras que prejudicam um pouco a sequência das músicas e a imersão do ouvinte. Novamente não vou me estender muito aqui, deixo para os especialistas em progressivo uma análise mais detalhada, com referências e comparações melhores. Como opinião de quem não é um aficionado por progressivo, não recomendaria esse álbum. Acho que a temática Xuxa vindo do espaço se encaixa melhor aqui...


Davi: Assim que olhei para a capa desse disco, pensei: "esse deve ser um álbum de rock progressivo". E não é que eu acertei? A jogada dos caras é fazer um prog bem setentista, com ênfase no trabalho de teclado. Embora o instrumento seja o maior destaque do álbum, o timbre dele me incomoda um pouco. Acho a sonoridade um pouco clean demais. Outro ponto negativo fica por conta do trabalho vocal. Não pelas linhas vocais em si, elas são bem construídas (inclusive a linha vocal da faixa-título, me lembra bastante o Yes, banda que adoro), mas o cara simplesmente não me convence. As composições oscilam um pouco. Algumas são muito boas, como é o caso da já citada faixa-título e de "Door to Forever". Outras são um pouco sonsas, como é o caso de "First Stage" ou "Radio Silence". No geral, acho um disco bom, mas não espetacular.


Fernando: Há um tempo venho fuçando bandas de progressivo, principalmente as chamadas de neo-prog e não cheguei perto do Kinetic Element. Realmente é impossível conhecer tudo. Não sei se eu estou sendo parcial, mas lembrou muito o Spock’s Beard, principalmente essa nova fase – na verdade, nem tão nova assim – sem Neal Morse. Porém eu achei a voz de St. John Coleman um pouco irritante em alguns momentos (ouçam ali pelos 7 minutos da faixa título) e isso me tirou um pouco da vibe do disco. Quando ele canta em tons médios fica tudo bem, as músicas são legais, o problema é quando ele arrisca os agudos.


Líbia: Sem comentários para esse lançamento também, infelizmente não sobrou tempo para digeri-lo.


Mairon: Desconhecia totalmente essa banda americana. Os caras me lembraram muito os gaúchos do Apocalyse, com uma sonoridades bastante calcada no progressivo britânico, mas com teclados mais modernosos, e vocais não tão atraentes quanto o de nomes como David Gilmour ou Jon Anderson. É um álbum conceitual, baseado em histórias dos desejos dos homens em viajar pelo espaço. Há momentos onde parece que estamos ouvindo o bom e velho Genesis ou Emerson, Lake & Palmer, vide alguns trechos da longa faixa-título e de "Door To Forever", e daí a coisa empolga. Mas creio que a banda peca mesmo é nos vocais, que soam muito cansativos por vezes. Faixa que mais me agradou foi "First Stage", não por acaso aquela onde os vocais conseguem se sair bem aos meus ouvidos. De qualquer forma, legal saber que há bandas gravando algo nesse estilo ainda hoje.


Marcello: Outra banda que não conhecia, e que tive que ir buscar informações pela Internet para saber de quem se tratava. O grupo americano está listado no ProgArchives como neo prog, e este seu quarto álbum de estúdio é descrito como conceitual e dedicado às pessoas que trabalharam nas missões Apollo; é daqueles discos que é bom ouvir com as letras à mão. O instrumental é muito bom (com destaque absoluto para os teclados de Mike Visaggio, cujos timbres remetem aos tempos áureos do progressivo nos anos 70), as músicas são bem construídas e têm um agradável sabor de progressivo clássico, mas os vocais de St. John Coleman não me agradaram, para ser honesto. A faixa-título, com quase vinte minutos, é o destaque absoluto do disco, com boas variações de ritmo, guitarras e teclados se alternando para captar nossa atenção, mas vocais aquém da capacidade do grupo – ainda bem que a música tem vários trechos instrumentais. “First Stage” e “Radio Silence”, as faixas mais curtas, são um pouco inferiores; quando as músicas ultrapassam os dez minutos, a banda está, com o perdão do trocadilho, no seu elemento. “We Can’t Forget” traz o guitarrista Peter Matuchniak com grande destaque, e o solo de órgão de Visaggio me encheu de nostalgia. O encerramento com “Door to Forever” traz ecos de Steve Howe nas guitarras de Matuchniak, e, curiosamente, os vocais de Coleman estão melhores aqui do que no resto do álbum, tornando a música a minha segunda favorita. No final das contas, teria gostado mais deste “Chasing the Lesser Light” se ele fosse instrumental; eles deviam ter feito como no último disco do Porcupine Tree e incluído as versões instrumentais das músicas.

Hurricanes - Hurricanes

Por Davi Pascale


Descobri essa banda totalmente por acaso. Estava navegando no meu Facebook, quando vi uma galera comentando que a banda que tinha sido número de abertura no show do Black Crowes era excelente. Imediatamente fui atrás do nome da banda e de algo para ouvir. Acabei me deparando com 2 clipes no Youtube e foi o suficiente para chamar a minha atenção. A banda aposta em um rock n roll, influenciado por blues, com uma aura bem setentista. E, de boa, os caras não ficam nada a dever para os gringos. Os grandes destaques do grupo são o guitarrista Leo Mayer e o vocalista Rodrigo Cezimbra. Escute "The Bird´s Gone", "Thunder In The Storms", "Flower" ou "Purple Clouds" e tente ficar indiferente. Discaço!


Anderson: Ao ver a redundância do nome da banda e álbum, me soou clichê e fui deixando esse pro final. Contudo, foi uma das melhores experiências da lista. Os caras do Hurricanes incorporam o melhor do rock n roll, blues, Southern rock e afins dos anos 1970. O som é tão natural e espontâneo que nem passou pela minha cabeça que eram conterrâneos, não que as bandas daqui não sejam qualificadas (claro que não!), mas me pareceram nativos dos EUA. Isso indica que, ao meu ver, os caras fizeram um trabalho extremamente fiel às origens do estilo. Ao pesquisar um pouco creio que tenha a ver com a forma como eles realizaram as gravações: presencialmente (como antigamente) e com instrumentos clássicos - old school! Voltando ao som, se você curte Deep Purple, Led Zeppelin e pitadas de Blackberry Smoke irá com se apaixonar pelo material. Até nas letras da pra pegar aquela aura psicodélica do movimento Hippie, com várias menções a elementos da natureza em sons bem trabalhados hora mais rápidos e hora mais lentos e extensos. Vai entrar na minha lista de bandas que acompanho, com certeza.


André: Aqui temos uma mistura de blues rock com algumas coisinhas de hard, jazz e clássico. Um disco bem legal, uns backing vocals femininos bem feitos, um baixo que lembra bastante o jazz sessentista e uma sonoridade geral bem de resgate principalmente dos anos 60 com as vantagens da produção de hoje em dia. As canções que mais gostei foram “Devil’s Deal” e “Flowers”. Bacana, singelo e agradável.


Fernando: Dificil não relacionar o Hurricanes de cara com o Led Zeppelin e The Black Crowes. Também foi difícil conseguir informações sobre a banda pois vários outros Hurricanes ou variações desse nome estão por aí. No fim consegui descobrir que se trata de uma banda brasileira, gaúcha para ser mais exato, com Rodrigo Cezimbra nos vocais, Guilherme Moraes na bateria, Henrique Cezarino no baixo e Léo Mayer nas guitarras e produção. Porém o som é muito fácil de gostar, as músicas são redondinhas, bastante bom gosto nos timbres e na mistura entre a sonoridade setentista com o som atual. O disco tem pouco mais de 30 minutos e eles conseguem deixar o ouvinte com vontade de ouvir mais. Muito bom!


Líbia: Uma boa surpresa! Apesar da sonoridade possuir um tom contemporâneo,  tem os dois pés no coração blues rock dos anos 70. “How do you love?” é uma faixa muito inspirada, tem um inicio jazzístico maravilhoso, logo após há várias nuances do rock and roll com direito a um lindo solo de guitarra e gaita. A banda entregou muita qualidade em vários quesitos em seu primeiro álbum, sem esquecer da produção caprichada. Fiquei sabendo que este era um sonho distante e, com muito esforço e apoio, finalmente foi lançado este álbum autointitulado. Maravilhosa recomendação.


Mairon: Assim como quase toda esta lista, desconhecia os rapazes que me causaram várias surpresas. Não há pudor algum em entregar as referências e inspirações. Stones surge na base acústica de "Flowers", Pink Floyd no riff a la "Have A Cigar" de "Thunder In the Storm", uma linda balada bluesy, Johnny Winter com The Allman Brothers Band no blues de "How Do You Love?", e os slides zeppelianos de "The Bird's Gone". Faixas como "Devil's Deal", (que trecho jazzístico fantástico), "Purple Clouds", "Waiting" e "Weary Hearted Blues" mostram uma similaridade com o que o Greta Van Fleet vem fazendo, resgatando a sonoridade anos 70 mas com toques modernos, e o sotaque do vocal acaba entregando a maior surpresa de todas: o pessoal é brasileiro!! Bom saber que algo nessa linha está sendo feito por aqui. Bela obra!


Marcello: Procurei um bocado e não consegui encontrar o disco... Já tinha enviado as outras resenhas quando o Mairon mandou um link, e aí só deu tempo de ouvir duas vezes, mas não de procurar mais informações sobre a banda – só achei uma resenha no site da 89 FM, onde descobri que é o disco de estreia da banda brasileira, produzido pelo próprio guitarrista Leo Mayer. O disco é curtinho, oito músicas em pouco mais de 33 minutos, e soa como um álbum dos anos 70 trazido para o século XXI. Boas guitarras, teclados pouco intrusivos, baixo e bateria pesados na medida certa e bons vocais, com um som que lembra um pouquinho Black Crowes (para quem abriram shows recentemente) dos dois primeiros álbuns, mas sem soar como cópia ou plágio. Tudo começa com a pesada e animada “The Bird’s Gone”, mais pesada e com um órgão para lá de setentista. “Purple Clouds” soa como um Led Crowes, pois o vocalista canta com alguns maneirismos que lembram Robert Plant, ao passo que as guitarras remetem a Rich Robinson e quem quer que esteja tocando guitarra com ele. O solo de slide guitar é muito legal nessa música! A baladinha “Flowers” não me chamou muito a atenção (não é ruim, mas também não se destacou). “Devil’s Deal” também coloca a slide guitar no centro das atenções, mantendo o astral elevado. A introdução de “How Do You Love” me fez lembrar de “How Many More Times”, do primeiro álbum do Led Zeppelin, e “Weary Hearted Blues” diminuiu novamente o peso, com um ritmo bluesy bem atraente. Bom disco, despretensioso, que remete ao passado mais glorioso da história do rock. Oh we won’t give in, let’s go living in the past!

Mythra - Temples of Madness

Por Líbia Brígido


Provavelmente em alguma prateleira de loja de discos “Temples of Madness” chamaria minha atenção primeiramente pela capa feita pelo artista Roberto Toderico. Nela percebemos a seu fascínio pelas culturas antigas, pelo terror e como ambientação de Nápoles, cidade natal do artista, é de grande inspiração. Tudo isso caiu muito bem para esse mais recente lançamento da MYTHRA, banda formada pouco antes do termo “New Wave of British Heavy Metal” ser mencionado, sendo uma das bandas que deram origem ao rico movimento. O lançamento do EP “Death & Destiny” em 1979 foi o suficiente para a banda não ser esquecida pelos fãs e colecionadores amantes das bandas de heavy metal inglesas. Isso impulsionou a banda a retornar muitos anos depois, em 2015. Em“Temples of Madness” a banda realmente se inspirou em suas próprias origens, manteve a sua essência. E ao colocar no leitor de CD pela primeira vez as faixas são surpreendentes mesmo nos levando à época de origem da banda, nos levando a uma conexão com as músicas e a banda. A excelente produção nos proporciona a ouvir os excelentes riffs, faixas empolgantes e a excelente faixa-título “Temples of Madness”. Recomendo muito esse CD na coleção.


Anderson: Se você não consegue entender o que significa New Wave of British Heavy Metal ouvindo os clássicos e misturando as ideias, ouve isso aqui que vai te dar um resumo completo. Vai achar Saxon, Iron Maiden e Judas Priest clássicos, entre outros. Aliás a banda tem origem no NWOBHM, nasce nos anos 1970 mas morre nos anos 1980. Voltam para valer apenas por volta de 2015 trazendo uma sonoridade absolutamente clássica e a cara da NWOBHM. Gostei particularmente de Split te Veil um pouco mais rápida e com uma pegada mais sombria na sua dinâmica; "Failure of Fortune" com seus riffs super simples também é um destaque legal; e, por fim, acredito que a faixa título, que começa lenta e é a mais longa do álbum, é a mais legal. Tem variações interessantes e reflete bem o estilo. É um bom álbum, nada de especial em um álbum curto com músicas também curtas, porém agradável de ouvir do começo ao fim. Tinha espaço para algo mais grandioso e essa seria a única ‘crítica’.


André: Não uso Spotify e não consegui encontrá-lo em nenhum outro lugar online. Uma pena, queria muito ouvir este disco.


Davi: Procurei, procurei, procurei, mas não consegui encontrar o álbum para ouvir. Encontrei o primeiro disco e um EP intitulado Death and Destiny. Desse aqui, tudo que encontrei foi um vídeo com um dos integrantes anunciando o álbum e trechos de algumas composições que estariam no disco. Assim como o Tanith, os caras apostam em uma sonoridade NWOBHM, mas aparentemente eles usam uma mixagem um pouco mais moderna, possuem mais de peso e um cantor melhor. O pouco que ouvi, achei interessante, mas não encontrei o tanto de conteúdo que preciso para poder formular um comentário mais aprofundado.


Fernando: Opa!!! Aqui é minha praia! A NWOBHM é uma das coisas que eu mais me interesso e o Mythra é uma daquelas bandas que só quem fuçou realmente conhece pois no fim das contas no período temporal que colocamos o surgimento, desenvolvimento e fim do movimento eles não chegaram a lançar um álbum completo de fato. Inclusive o EP de 1979, The Death & Destiny, faz parte da minha wishlist há tempos.


Mairon: Heavy Metal tradicional de uma das bandas da NWOBHM, e que ainda segue na ativa, mesmo tendo ficado afastada dos holofotes durante muito tempo. Este é somente o terceiro CD dos caras, e é daqueles que qualquer fã do estilo irá curtir. Os vocais de Kev Mcguire não tem a força de um Bruce Dickinson, ou um carisma de Biff Byford, mas agradam bastante, principalmente em "Dangerous ", "Prophecy", "Stabbed in the Back" e "Wild and Free". Destaques para os riffs de "Failure of the Fortune", "Split the Veil", "The Reaper", e melhores faixas ficam para a ótima faixa-título, com sua bela introdução dedilhada, e a pesada e trabalhada "Vertigo", com um refrão que fica grudado na cabeça. Boa obra!


Marcello: Uma banda antiga, dos primórdios da New Wave of British Heavy Metal, mais uma ilustre desconhecida para mim, que pelo que pude apurar gravou bem pouco naquela época e sumiu para depois retornar. O grupo faz um heavy clássico, que lembra bastante aquela cena britânica do começo dos anos 80, e as duas primeiras músicas (“Stabbed in the Back” e “Split the Veil”), para mim, estabelecem o tom do disco, com guitarras pesadas e bons vocais, e músicas pesadas, diretas e normalmente curtas, que não deixam a energia cair ao longo do álbum. O encerramento com “Wild and Free” mostra que a banda foi bem fiel à proposta que fez para o disco, encerrando uma coleção de doze boas músicas. O nível do disco é bem uniforme, tornando difícil destacar alguma outra composição em especial, mas a faixa-título é mais longa do que o resto, e generosa com o ouvinte; nela o vocalista Kev McGuire ganha destaque adicional e John Roach brilha na guitarra solo. “Temple of Madness” é um bom disco, e o Mythra surpreendeu-me positivamente. Mas gostaria de ter tido a oportunidade de ouvir mais vezes para poder falar melhor do disco.

Moon Coven - Sun King

Por Mairon Machado


Estes suecos surgiram para mím através daquelas indicações do youtube que você acaba não percebendo que surgiu, e segue ouvindo. É o segundo disco da banda que ouvi (o outro é o também seminal Slumber Wood), mas aqui, o quarteto está mandando ver. Os riffzões de baixo e guitarra, com uma distorção fodida, e uma bateria mais que pesada, fazem da abertura com "Wicked Words In Gold They Wrote" uma faixa para sairmos empunhando air guitar pela sala. Isso segue incondicionalmente impactante em "Behold the Serpent", "The Lost Color" e "The Yawning Wild", faixas para colocar a sala abaixo, e estourar os alto-falantes. O peso segue demolindo a casa através de "Seeing Stone", mas nem só de peso vive Sun King. Afinal, não há como não se encantar com os solos de " Below The Black Grow" e "Sun King". O melhor fica para "Guilded Apple", uma amostra grátis do que o Black Sabbath foi para quem só quer ouvir novidades no streaming. O Moon Coven tem tudo para ser uma das grandes bandas dessa década, tomara que continuem lançando discos tão bons quanto esse.


Anderson: Na hora que comecei a ouvir pulou na minha cara Jane’s Addiction. Nem lembrava mais desses caras, mas ficaram registrado lá na fonte, fizeram um estrago. Acredito que não seja a comparação correta a se fazer, porém para mim foi isso que veio. De qualquer modo, pra quem curte um som pesado, sujo e direto vai ser feliz com o Moon Coven. Gostei bastante e irei atrás dessa banda com certeza. Bem na realidade trata-se de um stoner dos bons, algumas passagens que lembram bandas mais clássicas de heavy metal como solos gritantes e relativamente simples, aquela bateria seca com bastante prato soando sem parar, alguns efeitos e passagens duradouras um tanto quanto doom. O destaque é mais o conjunto, apesar do baixo estar bem forte e distinto nas músicas. É um mergulho no caos e quando você percebe, acabou o disco. Muito bom!


André: Banda sueca de stoner desconhecida para mim. Eu gosto do estilo, achei o vocal mais agudo à la Ozzy Osbourne interessante, mas de forma geral o disco me passou meio batido sem algum riff ou passagem de destaque. A principal influência é o Sabbath. Dá de ouvir tranquilo, mas falta um pouco mais de capricho em criar ganchos marcantes.


Davi: O Moon Coven é uma banda daquilo que se convencionou chamar de stoner doom. Todas as características do gênero estão aqui presentes: os riffs pesados e arrastados, a bateria esmurrada, as linhas vocais oras melancólicas, oras gritadas em uma vibe meia Ozzy anos 70. Aliás, a influência de Black Sabbath se faz presente em diversos momentos. Também se faz presente umas pitadas de rock psicodélico. Ainda que o som deles não seja exatamente original, o trabalho é bem feito. Os caras são, indiscutivelmente, bons músicos. Colocaria como destaque do álbum, as faixas: "Wicked Words In Gold They Wrote", "Behold The Serpent" e "Guilded Apple". Vale uma audição.


Fernando: O stoner rock (ou stoner metal) é um estilo que eu tenho um pouco de preguiça. Depois de um tempo me parece que as músicas ficam todas iguais como também fica a impressão de que a qualquer momento as bandas vão enfiar um riff do Black Sabbath no meio da música para fazer uma referência. E não foi o Moon Coven que me fez mudar de ideia. Apesar de alguns bons momentos aqui e outros acolá, no geral é mais do mesmo que eu comentei acima.


Líbia: Sempre que ouço algo tão atual e bom como o “Sun King” da Moon Coven, me pergunto de onde tiraram esse papo de que o rock ou metal morreram. Esse lenga-lenga não passa de uma preguiça de procurar as novidades. A sugestão desse tema realmente foi excelente para nos mostrar quantos álbuns de qualidade foram lançados nesse ano. As bandas que surgiram na última década mais voltadas ao Stoner Metal tem enriquecido muito nossos repertórios, e provavelmente “Seeing Stone” fará parte de certos dias para desopilar a mente. A faixa-título “Sun King” tem os melhores momentos do álbum. A Ripple Music realmente tem um catálogo incrível, principalmente dessa seara, e esse lançamento é mais um dos bons.


Marcello: Banda sueca que se enquadra na minha categoria de grupos do qual ouvi falar – ou li a respeito – e nunca tinha tido a chance de ouvir a música. O estilo musical é descrito como stoner, doom, psychedelic, e outras coisas que não estão no meu radar. O disco começa com as guitarras pegando fogo, e o baixo soando como uma terceira guitarra, até que os vocais entram – um pouco abafados na mixagem para meu gosto, em “Wicked Words in Gold They Wrote”. Daí em diante, tem-se um desfile de canções extremamente bem feitas, mais ou menos no mesmo padrão da abertura – mas não se trata de um disco monótono, porque o bom trabalho instrumental e o baixo carregado de fuzz não deixam espaço para isso. A faixa título é um dos principais destaques, com a bateria levando a um trecho de guitarras gêmeas muito bem realizado. O final com “Death Shine Light on Life” (uma curta instrumental) e “The Lost Color” é muito interessante, e eu ainda destacaria “Gilden Apple”. Em alguns momentos as músicas me lembraram o Black Sabbath original com Ozzy, o que sempre me será uma influência bem-vinda. No todo, achei um bom disco, ainda que deva ser ouvido quando você estiver na mesma sintonia mental que o quarteto.

Tanith - Voyage

Por Marcello Zappelini


Segundo álbum da banda de hard rock americana, “Voyage” traz o Tanith como um trio (ainda que com o apoio de Andee Blacksugar nas guitarras), formado pelos fundadores Russ Tippins (guitarra/vocais), Cindy Maynard (baixo/vocais) e Keith Robinson (bateria). O Tanith tem sido descrito como tendo influências de bandas como Blue Öyster Cult, Thin Lizzy, Heart e até Fleetwood Mac (nos vocais). Cheguei a esse álbum por indicação de um amigo meu, que me falou da banda por conta da interação entre vocais masculinos e femininos, e gostei o bastante para ir atrás do primeiro álbum (o bom “In Another Time”, de 2019, que contava com Charles Newton nas guitarras). O álbum tem um emocionante sabor de rock da década de 70, e mostra a evolução da banda, especialmente nos vocais de Cindy Maynard, que me parecem mais suaves no primeiro álbum e aqui têm mais variação. Há várias músicas interessantes para destacar, desde a abertura com “Snow Tiger” ao encerramento com “Never Look Back”, passando por “Seven Moons (Galantia Pt. 2)”, que completa uma trilogia com duas faixas do primeiro disco [“Citadel (Galantia Pt. 1)” e “Wing of the Owl (Galantia Pt. 3)”], “Adrasteia” (que destaca as guitarras de Tippins), “Mother of Exile” (belo trabalho vocal de Cindy) e “Olympus by Dawn”. Um disco bastante agradável, com boas músicas, um belo instrumental, mas que infelizmente não tem jeito de grande sucesso, nem de lista de “melhores do ano”, mas que me faz esperar não só que o Tanith continue, como ainda por cima não demore quatro anos para lançar o próximo.


Anderson: Aqui um Heavy Metal clássico, daqueles bem clássicos estilo NWOBHM. Porém ao contrário do que aconteceu com o Walking with Titans e seu Power Metal manjado, aqui tive mais resistência em aceitar a mesmice. A primeira parte foi entediante e apenas na segunda metade do álbum que começou a descer legal. Creio que uma nova audição possa mudar algumas opiniões. O vocal compartilhado entre Russ Tippins (vocal/guitarra) e Cindy Maynard (vocal/baixo) soou interessante positivamente. Russ tem um timbre que me remeteu ao Klaus Meine (Scorpions), enquanto a forma como modula a voz e o estilo de cantar de Cindy me remeteu imediatamente a ótima Johanna Sadonis (Lucifer). Claro que largadas devidas as proporções, apenas algumas referências. Aliás, atentando à sonoridade poderia citar o início do Black Sabbath e Blue Öyster Cult, muita coisa dos anos 70 está nesse material.


André: Me surpreendi com este excelente disco. Não conhecia o Tanith e me deparei com um heavy metal tradicional mas que pinça algumas coisinhas também de hard rock setentista tipo Uriah Heep e até um tiquinho de space rock em algumas passagens de teclado. Tanto Cindy quanto Russ são ótimos vocalistas e além disso, a moça também toca muito bem o seu baixo, bem audível em todas as canções da banda. Uma pena que como o disco não tem nenhuma faixa daquelas mais “radio-friendly”, a banda vai passar batido nos motores de pesquisa do youtube e spotify. Um disco forte candidato a entrar na minha lista de Melhores do Ano.


Davi: O Tanith é uma banda muito bem falada entre os amantes do metal, mas sinto dizer, a impressão que tenho é que isso somente ocorre por se tratar de um projeto do guitarrista Russ Tippins (Satan). Sejamos francos. A ideia de fazer um hard/heavy setentista com uma aura NWOBHM é ótima, mas o resultado é bem fraquinho. As composições não cativam, o trabalho de contrabaixo é fraquérrimo, os trabalhos vocais (tanto os de Russ, quanto os da contrabaixista Cindy Mainard) também são fraquérrimos. As faixas menos piores acredito que sejam "Seven Moods (Galantia Pt2)" e a quase plágio do Iron Maiden, "Snow Tiger". O trabalho de guitarra realmente é muito bom, mas é a única coisa que escapa nesse disco.


Fernando: Essa banda eu conheço também. Gostei do In Another Time, de 2019, mas acabei esquecendo da banda já que desde então não tinha saído mais nada. Para quem acompanha algumas bandas da NWOBHM é obrigação conhecer Russ Tippins por conta de bandas importantes como Satan, Blind Fury e Tysondog. O interessante é esse dueto de vozes suaves tanto de Tippins quanto da baixista Cindy Maynard. Tippins não cantava em suas bandas mais conhecidas, mas pegou gosto quando manteve a Russ Tippins Eletric Band, ali no início dos da década passada e faz o trabalho muito com bastante mérito. Não espere nada de inovador, mas tenha certeza de que eles entregam algo redondinho, bem feito e bastante satisfatório. Banda nova com integrantes experientes tem dessas vantagens.


Líbia: Já na “Snow Tiger” já senti as raízes do metal americano, algo que me lembrou as passagens de Manilla Road e Ashbury por exemplo. Não conhecia, e fiquei feliz em ouvir, me identifiquei muito. Chegando na “Falling Wizard” já estava entregue a banda, já fazendo planos para ouvir na próxima viagem de carro. Essa faixa é bem inspirada, começa com um coro, os riffs são enérgicos e a cozinha com um tempero ótimo lá da casa do Rush. Eu realmente adorei esse álbum! Daqueles que falamos “Pow, isso é bom demais!” no meio das músicas. Obrigada por esse indicação.


Mairon: Mais uma banda americana por aqui, fazendo um Metal interessante, misturando diversos elementos e com belas harmonias vocais no duo feminino/masculino. O som é bem comum na maior parte das faixas, vide "Falling Wizard", "Flame", " Mother of Exile", "Never Look Back" e "Olympus by Dawn", mas curti a mistura de violões e muito peso de "Seven Moons (Galantia Pt. 2)" e "Snow Tiger", o riff de "Architects of Time" e as divisões vocais da veloz "Adrasteia", melhor do disco. Legalzinho!

Hawkwind - The Future Never Waits


Por Daniel Benedetti


Anderson: Sempre comento que esse tipo de música não é muito minha praia o que faz com que me sinta um pouco deslocado em comentar. Logo, não irei me alongar uma vez que tem muita gente mais competente por aqui e que vão detalhar o material. Um som progressivo que, ao meu ver, conversa bastante com outros gêneros como o jazz e muitas vezes vai ao limite do estilo (se é que há um limite para o rock progressivo). A base do som, como a própria capa ilustra bem, são os anos 1970 e encontrar passagens que lembram grandes expoentes do estilo não é incomum. Agora, a importância que o teclado e o sintetizador possuem para esse álbum é algo evidente. Não se trata só de ambientação, ou protagonismo em algumas passagens, é parte substancial das músicas. Por vezes, no entanto, algumas sequências de bateria e rupturas, eu diria dramáticas (negativamente), nas músicas dão um nó na cabeça. Minha impressão final é confusa, as vezes parecia que a nave da Xuxa ia pousar na minha sacada e os caras sairiam da névoa tocando os sons... Não é minha praia.


André: A banda é bem conhecida, mas eles lançam tantos discos que mesmo assim um desses aqui pode passar batido. Incrível como o incansável Dave Brock, já com seus 82 anos, ainda segue compondo (junto aos seus companheiros) e liderando uma das bandas referência quando se trata de space rock. E a banda segue em alto nível. “They Are So Easily Distracted” é longa e tem um solo de sax e piano bem requintado unindo àqueles sintetizadores fazendo atmosferas espaciais como de costume. Outra que também gostei foi “Outside of Time”, com um instrumental mais “ambient” e um ar meio natureba que me agradou bastante na mistura com o sintetizador espacial. Estou longe de ter escutado metade do que a banda já lançou, mas tudo o que ouvi eu gostei. E este disco inclui-se nesta categoria.


Davi: O Hawkind faz parte daquele hall de bandas que seguem na ativa tendo apenas o nome e 1 integrante original. O integrante, nesse case, é Dave Brock, no auge de seus 82 anos. De fato, acho muito bacana quando a pessoa envelhece fazendo o que gosta. O problema é quando a arte envelhece com a pessoa e esse é o caso aqui. Ok, o trabalho de guitarra é bem feito. A (insuportável) "They Are So Easily Distracted", por exemplo, tem um solo bem bonito, mas convenhamos, o disco é bem chato. Inúmeros samplers, trabalho vocal morto (teve momentos em "Rama" e "The End", que eu achei que ele fosse dormir, eu estava quase), arranjos sem vida, experimentações sem pé, nem cabeça. Para não dizer que não se salva nada, os 3 minutos finais de "The Beginning" são muito bonitos, mas é só isso mesmo.


Fernando: Não sabia que o Hawkwind ainda estava na ativa. Não conheço a fundo a carreira da banda, até porque a quantidade de disco é enorme e fiquei somente naqueles discos ali da primeira metade dos anos 70. Realmente, se não fosse o tema da matéria, esse seria definitivamente um disco que eu não iria ouvir por conta própria mesmo! Como disse não acompanhei a banda ao longo das décadas portanto não sei se o estilo do disco em questão foi mantido ao longo de todo esse tempo, mas me pareceu uma banda tentando emular a fase de ouro de sua história e isso não é uma crítica, ou um demérito.


Líbia: Esse álbum me fez bem, estava em uns dias acelerados e pouco saborosos, e “The Future Never Waits” me levou a outro planeta, estava precisando. Conheço pouco do Hawkwind, e essa experiência musical vai ficar marcada. Quem não entende muito do prog (eu me incluo nisso) vai achar esquisito no início, igual quando conhecemos alguém e não temos tantas expectativas. Começa com a faixa título com efeitos sonoros e espaciais e quando finalmente chega na “The End” o álbum já mostra completamente seu potencial. É um disco com uma variedade ótima de sons com uma riqueza e tanto de jazz, porém minha favorita por enquanto é a enérgica  “Rama ( The Prophecy)”. Muito bom vivenciar esse lançamento.


Mairon: Este disco não foi apenas quem o indicou que ouviu. Das poucas coisas de 2023 que parei para apreciar, The Future Never Waits esteve entre elas. Apenas Dave Brock continua na ativa desde a fundação do grupo no final dos anos 60, mas ele mantém as geniasi passagens exploratórias de músicas incompreendidas (eu mesmo demorei muito tempo para decifrar os enigmas que são as obras do grupo) em alta. Os grandes destaques desse disco sem dúvidas são os mais de dez minutos da faixa-título, com uma mescla de sintetizadores, percussões e teclados extremamente envolventes, e a igualmente com mais de dez minutos " They're So Easily Distracted", com várias mudanças no protagonismo do instrumento central, onde um saxofone divinamente encantador e uma guitarra suave, mas igualmente encantadora, dão um espetáculo a parte. Mas há mais neste que é o 36° (!) disco de estúdio dos britânicos. As viagens instrumentais seguem em "Adous Huxley", com uma linda passagem de piano e sintetizadores, ou s delirantes notas de guitarra em "USB1". Por outro lado, faixas vocais se fazem presente de forma bastante modernas, vide "Outside of Time" e "Rama (The Prophecy)". "I'm Learning To Live Today", lembra os tempos de clássicos como DoReMi FaSol LaTiDo ou Hall of the Mountain Grill, O rock simplório, quase punk, de "The End" chega a ser hilário de se ouvir advindo de uma banda tão conhecida por suas técnicas musicais avançadas. Único deslize, mas muito pequeno, para o fim do disco, com "The Beginning" e "Trapped In This Modern Age", alegrinhas demais para um disco que poderia figurar facilmente nas listas de Melhores de 2023.


Marcello: E a turma de Dave Brock continua por aí, com mais de 50 álbuns de estúdio ou ao vivo lançados, dezenas de formações diferentes e muita doideira pelo caminho. “The Future Never Waits” continua a saga do Hawkwind e seu space-rock para quem quiser acompanhar. Brock e o guitarrista/tecladista Magnus Martin são responsáveis pela composição das músicas, algumas contando com a participação dos demais integrantes da banda (que inclui também Richard Chadwick na bateria, Doug McKinnon no baixo e Tim “Tightpaulsandra” Lewis nos teclados e eletrônicos em geral). A faixa título apresenta dez minutos instrumentais altamente viajantes, e os tradicionais riffs de guitarra de Dave Brock puxam a faixa seguinte, “The End”. “They’re So Easily Distracted” é outra música viajante, que prende a atenção do ouvinte com saxofones sampleados (saudades do grande Nik Turner...), e mostra que a banda ainda tem muita lenha para queimar. Outras três músicas do disco ultrapassam os oito minutos de duração, provando que o Hawkwind continua não dando a mínima para a cena musical que circula por aí e se concentra em fazer aquilo que os fãs mais apreciam; “Trapped in this modern age”, apesar do título, está aí para provar. Já “Outside of Time” é uma das melhores músicas neste “The Future Never Waits”, e a que me fez voltar mais vezes ao álbum. A última vez que tinha ouvido um disco novo da banda em seu lançamento fora o (bom, diga-se de passagem) “Blood of the Earth”. No final das contas, acabei concluindo que o Hawkwind evoluiu, mas continua o mesmo de décadas atrás. Ainda bem.

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